sábado, 27 de dezembro de 2014

Animalia - O viveiro dos Pássaros (1), o trajeto




A campainha tocou e a andorinha Enna levantou-se do sofá da sala para ir atender a porta. Do outro lado, a lagartixa Plipka mostrava-se leve e saltitante, soltando um alegre 'Oii'.

'Chegou cedo', comentou Enna, convidando a amiga para entrar no apartamento, 'Pode ir se sentando, ainda não estamos prontos'.

'Ah...', a lagartixa soltou um muxoxo, 'Mas quanto antes chegarmos no Viveiro, melhor! Já liguei para Farel, e ele disse que está a caminho, junto com o resto do pessoal. Se demorarmos muito, vamos acabar perdendo as apresentações!'.


'Ok, ok. Vou ver se consigo apressar o Rennard', e Enna dirigiu-se para uma portinha aos fundos. Abriu-a casualmente com uma virada de seu pulso, revelando um raposo Rennard pelado, no meio do banho. 'Ow, adiante o lado, estamos de saída', disse despretensiosa para o homem surpreso.

'Enna!', Rennard reflexivamente buscou tapar-se com as mãos, 'Um pouco de privacidade, sim? Você passou meia hora no banho!'.

'Eu sei, mas o pessoal já está a caminho do Viveiro, então temos que sair logo. Ah, e Plipka já chegou'. Daí, aparecendo só com a cabeça sorridente no corredor, a lagartixa olhou para o raposo e disse, 'Olaa!'.

Agora, mais que antes, Rennard tentava esconder-se. 'Caramba, Enna, fecha essa porta!'

'Afe, como se nós não tivéssemos visto você pelado antes', resmungou Enna, e Plipka, em tom zombeteiro, 'É, sossega esse rabo, seu raposão'. Cheio daquilo, Rennard saiu do banho molhado, puxou a porta das mãos de Enna, fechou-a e, para certificar-se de que não abririam de novo, prendeu o banco do banheiro na maçaneta (pois a fechadura estava quebrada – e Enna ainda havia dito que nem teria problema! Humph).

'Viu como ele ficou vermelho?', disse Plipka, ainda no sofá, soltando suas risadinhas pontilhadas. A andorinha sentou-se ao lado da lagartixa, 'Ele é sempre tão envergonhado com essas coisas, não sei por quê. Parece até um filhote em sua primeira longa noite pela Animalia'.

'Sim', a lagartixa enroscava os dedos nos cabelos encaracolados, 'E é verdade que ele é parente da Lorena Vulpes? Eu imaginava que alguém assim seria muito mais...bem...extrovertido, hah'.

'Pois é, mas cada um é diferente, eu imagino', sorriu Enna. 'Mas me diga, você sabe quem irá hoje ao Viveiro? Não conheço muita gente lá e não quero ficar deslocada'.

Plipka arregalou os olhos, 'Não conhece? Mas você é uma andorinha, deveria estar até o pescoço amontoada de pássaros!'. Enna olhou carinhosamente para Plipka e deu umas piscadela: 'Pois é. Como eu disse, amiga, cada um é diferente'.

'Bleh', a lagartixa mostrou a língua, divertida, 'Mas sim, falando sobre quem vai, acredito que, além de Farel e os outros, vai também o pessoal de artes. Se lembra deles, Enna? A arara, o morcego, aqueles dois pombos...'.

Enna ergueu a mão, 'Ah, deixa pra lá. Chegando lá eu vejo esse pessoal. Falando assim, só sinto você apertar minha mente'. Então, levantando-se novamente do sofá, a andorinha bate à porta do banheiro, 'Bora, Rennard! Já deu para lavar até sua alma aí!'.

Logo em seguida, o raposo sai de dentro do banheiro vaporoso, ainda molhado em suas roupas largas e esvoaçantes. 'É foda, Enna. Não estou nem faz cinco minutos no choveiro e você já me colocando para fora'.

A andorinha nem se importou com as reclamações do raposo. 'Então, já está pronto? Podemos ir?'.

'Sim, só me deixe pegar o baixo elétrico...'

'Não! Carregar esse treco vai nos atrasar!', choramingou Plipka, lá no sofá, 'Vamos, vamos, temos que correr!'.

Então as duas puseram-se a empurrar o raposo para fora do apartamento, e logo estavam os três a caminhar apressadamente pelas ruas. Rennard ficou emburrado durante o começo do trajeto, 'Eu não vejo onde haveria problema em levar meu baixo'.

'Ainda irritado com isso? Mas você é chato mesmo!', brincou Plipka, cutucando o raposo nas costelas, 'Preocupe não. Se tiver algum baixo de bobeira lá no viveiro, vou ver se arranjo de você tocar'.

'Ai', Rennard ganiu ao sentir os dedos finos da lagartixa em suas costelas, 'Não é nem por isso, é só que não vejo razão por essa pressa toda. Ainda estamos no berço da noite, a maioria dos bichos ainda nem saiu de suas casas!'.

'Sim', Enna segurou as mãos de Plipka e de Rennard, 'Mas hoje vai ter apresentação no Viveiro, e elas começam logo no engatinhar da noite, bem quando bater as 20 horas. Então, temos que nos apressar, ouviu moçada?', e, segurando forte nas mãos dos dois, andou em passos apressados.


Realmente, Rennard estava certo. As ruas ainda estavam vazias. Era possível de se ver as luzes do Centro brilhando fortes, mostrando ainda muitos bichos que estavam trabalhando. Nas esquinas, os bares preparavam suas mesas e levantavam seus toldos. Um estranho silêncio pairava sobre tudo, indicando aquela calmaria inocente que antevem sempre às barulhentas tempestades de risos, danças e brincadeiras.

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