sábado, 27 de dezembro de 2014

Animália – Viveiro dos pássaros (2), os grupos se encontram




O metrô estava lotado. Era a hora que muitos bichos saíam de seus monótonos trabalhos e se preparavam para deitar nas cores da noite. É verdade, alguns deles só queriam mesmo era voltar para suas respectivas tocas e descansar. Mas era inegável que em muitos daqueles olhos cansados, daquelas compleições exaustas e rostos abatidos, ainda escondia-se aquela vontade de rasgar das roupas formais, deixar livre as caudas, asas e bigodes para então cair de cabeça naquela noite que começava.

Animalia - O viveiro dos Pássaros (1), o trajeto




A campainha tocou e a andorinha Enna levantou-se do sofá da sala para ir atender a porta. Do outro lado, a lagartixa Plipka mostrava-se leve e saltitante, soltando um alegre 'Oii'.

'Chegou cedo', comentou Enna, convidando a amiga para entrar no apartamento, 'Pode ir se sentando, ainda não estamos prontos'.

'Ah...', a lagartixa soltou um muxoxo, 'Mas quanto antes chegarmos no Viveiro, melhor! Já liguei para Farel, e ele disse que está a caminho, junto com o resto do pessoal. Se demorarmos muito, vamos acabar perdendo as apresentações!'.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Animalia – O cobra e o coelho




'O que rima com vermelho?', perguntou o jovite coelho, suas longas pernas esticadas no chão. Ele escrevia num caderninho algumas linhas de texto, parecendo ser o rascunho de um poema.

'Ora, coelho!', respondeu o cobra, enquanto passava os dedos entre a bunda do coelho, sorrindo malvado. O pequeno deu um pinote, virando-se sobressaltado para trás. Seus olhos avermelhados encontraram os do cobra, sentidos. 'Não faça isso do nada, eu não gosto'.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Lobas de Sangue (2) - Caolha




A mulher reclinava o corpo em direção ao regato. As águas calmíssimas permitiam-na ver refletida, em todos os detalhes que quisesse, a imagem de seu rosto. Sim, podia ver cada traço, cada uma de suas inúmeras marcas: as inúmeras rugas que desenhavam seu rosto jovem, ganhadas através de uma procissão ininterrupta de dores e sofrimentos; as muitas falhas e amassados, provenientes de golpes duros que lhe deformaram os ossos; as várias cicatrizes finas, últimos resquícios do ferro das lâminas que riscaram-lhe. E, coroando toda essa pintura facial grotesca, podia ver aquela fenda horrível, aquele buraco vazante e sangrado onde um dia ficara seu outro olho, agora sempre doendo, sempre doente, sempre pulsando.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Bate papo com os leitores - Véspera de véspera de natal



Heia pessoal,

Vendo natal se aproximando, juntamente com o fim de ano mais à frente, gostaria de fazer um post mais direcionado a vocês, leitores. Até fico um tanto surpreso com isso em ver que um blog tão desconhecido como esse tenha alguns leitores assíduos. Logo, gostaria de falar um pouco sobre como foi esse ano para minha escrita, imaginando vocês se interessarem, e, ao final, fazer uma pequena proposta a vocês.

domingo, 7 de dezembro de 2014

Animalia – Dona Sora Consuelo




'Hoje é dia de chuva, hoje é dia de frio. Hoje é dia em que os lobos uivam com os ventos e se tornam fumaça. Hoje é dia que raios cruzam com nuvens e molham a terra. Hoje é dia em que as pedras afundam na areia encharcada e criam montanhas. Portanto, se aproximem, adultos e pequeninos, se aprocheguem filhotes e jovites, que hoje a Consuelo vai contar de segredos sussurrados pelo gelo, das regras ocultas das ruas, da textura das do asfalto rachaduras e das cores que têm os arco-írises no escuro'

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

As lobas de sangue (1)



O homem abriu os olhos numa crispada de agonia, como se as pálpebras fossem pólvora estourando. Sua respiração estava rápida, cortada, o peito inchando e esvaziando desritmado e réptico. Sua mente borbulhava como se fervendo, num turvilhão de dor. Imagens aproximavam-se da superfície de seus pensamentos – gritos, estandartes flamulando ao vento, mais gritos, formas ambulando na noite, golpes – mas rapidamente se desfaziam conforme a bolha da imagem estourava na orla da mente, ardendo.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Poema 9 - Me chupa



Me chupa


'Me chupa', sussurraste à voz miúda
Teus olhos enluarados me sarrando
E o corpo lentamente aproximando
Calou de ventre a ventre a tez desnuda

'Me chupa', repetiste enquanto acuda
A mão em meus cabelos, me puxando
E então mais uma vez, me arranhando
Roçaste o ventre quente à pele muda

Em resposta, co a língua vou seguindo
A linha do seu corpo alegremente
Até as tuas pernas ir abrindo
E co a boca encharcada, num gracejo
Levanto lá das coxas sorridente
E digo, 'Vai, me chupa!', em meio a um beijo

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