domingo, 19 de outubro de 2014

sábado, 18 de outubro de 2014

Então, eu li 'Azul é a cor mais quente'



O quadrinho 'Azul é a cor mais quente' (do francês: Le bleu est une coleur chaude), o qual eu li hoje, é uma das mais belas dentre as que já vi coisas. Aliás, estes deste ano dias os quais me vêm correndo, me vêm trazendo tantas impressionantes obras (Childhood's End, de Arthur C. Clark; Admirável Mundo Novo, lido mais cedo este ano).

Quanto impressionada pessoa eu fiquei ao ver a imensa semelhança entre Emma (de 'Azul é a cor mais quente') e mie Nemo. São diferentes, é claro, em muitos aspectos. Mas são tão parecidis istis duis que é quase como que eu tivesse captado Emma através das ranhuras do ar.

Não há coincidências nesse caso. Os ecos persistentes da 'Anja Azul' de alguma forma me tocaram antes mesmo de eu a conhecer. Bem, eu devo ser uma pessoa sincera e dizer que Nemo me é muiti fugidie. Inclusive não continuei a história até então por razões de...bem...não sei exatamente como fazê-lo. Talvez eu devesse apenas escrever. Não que muitos hão de ler - sei meus textos serem pouco procurados.

Mas estou aqui loquando estas loquantes palavras apenas para tentar extravazar um pouco das emoções aviltadas por esta interessante obra. Todos que quiserem, leiam. Em resumo, é a história do relacionamento de Clémentine ao encontrar com a garota de cabelos azuis Emma, e como esta a faz aprender sobre si, sobre sua sexualidade e sua identidade.

E Nemo? Sabe, quanto mais faço pensar, mais faço crer terem Nemo e Emma se encontrado. Ambis possam ter estado na mesma faculdade? Aprendendo artes em conjunto? Não sei. Mas tenho quase certeza de que se encontram.

*suspiro*

Um brinde ao azul, sim?

Nas palavras de Emma:

'Só o amor pode salvar o mundo. Por que eu teria vergonha de amar?'




quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Aparente Nemo (5) - Banho e Água



Parte 5 

'Já estava ficando morta de preocupação', comentou Natasha enquanto Nemo nem ainda tinha fechado a porta, 'Você saiu faz quase duas horas, garoti!'. Nemo apenas suspirou enquanto ia abrindo o zíper e tirando a jaquetona juntamente com as calças de corrida. Natasha continuou sua zanga, 'E olha para você, todi molhadi! Eu avisei para que não saísse, não foi?'. 'Não se preocupe', Nemo respondeu, abrindo um sorriso, 'Estou bem'. Mas Natasha permaneceu fitando seriamente i garoti. Nisso, interveio Kali, dizendo de uma maneira jocosa, 'Não brigue com ili, tadinho!' e, em seguida, abraçando i menini.

O corpo de Nemo latejava pela corrida intensa que fizera, pelo frio da noite que escorria nas gotas de chuva em sua pele. O abraço apertado de Kali estalou nili como uma corrente elétrica de calor, e os cabelos noturnos da amiga grudaram em seu rosto molhado de chuva. Era uma mistura borbulhante de sensações, fazendo sua cabeça rodar. Ao fundo dos seus sentidos, percebia algum outro fiapo de sensação pairando no ar. Era um cheiro. Não o cheiro dos cabelos de Kali. Esse cheiro Nemo já conhecia até as digitais. Mas era um outro cheiro, boiando no vento do apartamento. Um cheiro de... 'Pizza? Vocês pediram pizza?', perguntou Nemo.

'Não, só esquentamos uma no forno', disse Kali, ainda agarrada ai amigui, 'Sobraram três pedaços ainda. Quer?'. Nemo concordou com a cabeça e Kali foi até o forno, abrindo a boca e, com um pano em mãos, tirou a forma de pizza de dentro. Nemo observava os movimentos da amiga com uma curiosidade quase felina – ao mesmo tempo interessada mas distante. Via os quadris bem marcados da amiga se mexendo, a maneira como o short caía sobre seu corpo, a forma como seus pés alternavam-se em passos no chão frio do apartamento, primeiro o calcanhar, depois a sola do pé, depois os dedos. Via os ombros se movimentando em sinfonia com os braços e os cabelos, todos ondulando de forma precisa – e, ao fundo, a janela que dava para a rua servia quase como uma tela viva na qual Kali se movimentava em três-dimensões. Havia tanta beleza em Kali que fez Nemo esboçar um sorriso contente.

'No que está pensando aí com esse sorriso todo?', falou Natasha que observava Nemo sentada na mesinha da sala. Virando o rosto, os olhos de Nemo se encontram com os de Natasha, e novamente sua imaginação se alongava, perdendo-se no rosto da amiga, nas formas dos cílios – longos e aloirados, nos olhos azuis que quase cintilavam na penumbra dentro do apartamento. Vendo Nemo ainda em silêncio, olhando atentivamente para si, Natasha levantou as mãos e acenou, 'Ei, garoti, alou!'. Só então que Nemo parou de voar e respondeu, 'Oh, eu só estava pensando um pouco, não se preocupe'.

Mas claro que Natasha ia se preocupar, 'Está muito avoado hoje, queridi. Algum problema?'. Nemo deu de ombros e foi sentar no sofá, 'Acho que não. Só estou me sentindo meio nevoeiro'. Natasha levantou-se da cadeira e foi sentar ao lado de Nemo, acarinhando maternalmente os cabelos azulados dili. Nemo, sentindo os dedos fortes mas carinhosos da amiga, deitou a cabeça no ombro dela. 'Mas como você está geladi!', comentou Natasha, 'Vamos, vá tomar um banho para afastar esse frio todo'. Nisso Kali diz, 'Ei, mas e a pizza?', disse ela aparecendo com três pedaços de pizza num pratinho, 'Acabei de esquentar, poxa! Deixa Nemo comer que depois ili toma banho'. Mas Natasha estava irredutível, 'Nada disso, eu quero ninguém doente aqui. Já para o banho!'.

Nemo nem quis discutir. Enquanto dava zombeteiri a língua para Natasha, foi tirando as roupas e desleixadamente as deixando pelo corredor. No chuveiro, já com a água quente turvando com seus vapores o vidro do banheiro, Nemo tremia ao sentir o contato do calor em sua pele. Ili sabia que não devia deixar a água tão quente, ainda mais depois do frio que passara – mas não se importou. Abraçando a própria cintura, olhos fechados, sentia as gotas escorrendo pelo corpo, reanimando as sensações que estavam dormentes. Com a água escorrendo por suas pernas e coxas, Nemo soltou umas risadelas curtas. 'Está muito atrevida hoje, sabia?', comentou sozinha no chuveiro, falando com a água. Erguendo as mãos até a boca do chuveiro, acariciou a corrente de água que descia, 'Realmente, muito atrevida escorrendo assim por mim'. E em seguida, fechou a água, 'Mas não tenho tempo para brincar contigo hoje'.

Depois de lavadi e limpi, Nemo sentiu-se mais leve. A água havia lavado o frio de si e pintado seu cinza com outras cores. Sentia-se feminina agora, como água, como chuva e tempestade. Olhando para as roupas suas no banheiro, escolheu a que achava ser mais feminina – uma enorme camisolona que de tão grande servia-lhe de vestido, indo até os joelhos. Olhou-se no espelho, embaçado pelo banho quente, e, depois de alguns momentos fitando nele com atenção, concluiu que gostou do que via. 'Estou linda', disse, abraçando a própria cintura.

Depois, indo em direção à sala, Nemo pulou no sofá onde Kali e Natasha conversavam silenciosamente. Pleft! Ela se encerrou entre as duas amigas como um hipopótamo caindo num meteoro. Daí, olhando para as caretas de susto das duas, Nemo perguntou com a carinha mais angelical possível, 'Estou cheirosa?'. A mudança de gestos e fala foi percebida imediatamente pelas amigas. Kali, dando uma fungada no cangote de Nemo, sorriu, 'Você está com o mesmo cheiro de sempre, amiga. Cheiro de tapete molhado'. Nemo respondeu, 'Mas seria o cheiro de um tapete cheiroso?', e agarrou-se como um bichinho no braço de Kali. 'Ah, mas é claro amiga!'. Nemo gostou do que ouviu e escondeu o rostinho nos cabelos escuros de Kali, para logo em seguida perguntar, 'E cadê minha pizza? Estou com fome! Fome!!'. Natasha diz, 'Deixa que eu pego, não precisa gritar'. E, só para fazer piada, Nemo gritou: 'Fomeee!!!'.

Agora as três estavam aconchegadas no sofá. Nemo comia suas fatias de pizza com as mãos, sentada com os pés em cima do sofá. 'Viu? Agora ela vai ter que lavar as mãos ainda. Seria bem melhor se ela tivesse tomado banho depois', reclamava Kali. Natasha respondeu com um muxoxo, para logo mudar de assunto, 'Bem, gente, hoje é sexta-feira. Vocês já têm algum plano para amanhã à tarde? Estava pensando se poderíamos ir ao shopping, passear um pouco, conversar'. Kali arregalou de alegria seus olhos amendoados, 'Ah! Seria ótimo! Eu estava mesmo querendo procurar umas roupas para ir ao show com Trisha. Vamos todas, Nemo?'.

O rosto de Nemo contorceu-se em rusgas de melancolia. Com uma voz esvaziada, disse, 'Amanhã eu irei almoçar com minha mãe'. O clima no pequeno apartamento ficou frio – mais frio do que a temperatura gélida que recaía por toda a cidade naquela noite. Kali percebeu a solenidade na voz de Nemo e a abraçou bem apertado. Nemo deixou-se carregar pelos braços da amiga e encerrou o rosto no peito da amiga. Natasha deitou sua mão sobre os ombros de Nemo, 'Vai dar tudo certo. Tenho certeza que ela ficará feliz em saber novidades de você'. Nemo não respondeu àquelas palavras. Ela apenas ficou escondida entre os seios de Kali por um momento e depois voltou a comer. Ela não disse mais uma palavra sequer.

Pouco depois, Kali já tinha se recolhido para o quarto. Queria ver se adiantava uns trabalhos para poder estar completamente livre amanhã. Natasha e Nemo ainda ficaram mais um tempo na sala, mas não tardaram também de irem para os quartos. 'Depois do almoço, se quiser sair conosco, nos dê um toque pelo celular, certo?', disse Natasha à porta do quarto de Nemo. Nemo apenas fez que sim com a cabeça, ainda em silêncio. Natasha suspirou pesarosa e correu os olhos pelo quarto vazio de Nemo, 'Nós até poderíamos ver se comprávamos algo para preencher esse quarto, não é amiga? Talvez uma luminária, uma mesa de estudos. Que tal uma mesinha japonesa? Você adora isso, não é?'. Nemo novamente apenas respondeu que sim com a cabeça. Percebendo que a amiga queria ficar sozinha, Natasha apenas se despediu, 'Boa noite, querida. Não se preocupe com amanhã, vai dar tudo certo' e então fechou a porta do quarto.


Nemo ficou só, com seus próprios fantasmas assobiando na consciência. Seus olhos se viraram para a janela do quarto e para o seu reflexo no vidro. Olhando a forma escura de sua silhueta, Nemo tocou os delineamentos de seu rosto e disse, com a voz um pouco incerta e trêmula, 'Estou linda...'.

Image 1