quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Aparente Nemo (3) - Natasha



<Já estava preocupando contigo!>, comentou Nemo, sorridente. A porta foi abrindo com um pouco de esforço, é verdade. Atrás dela, um vestido social reto, de tons pastéis sérios, sem piadas ou brincadeiras, indo até os joelhos protegidos por meia-calça escura que descia até os saltos brancos fechados e austeros. Na mão esquerda, uma maleta discreta; entre os ombros, um guarda-chuva; a mão direita, com um relógio dourado ao pulso, ainda segurava na maçaneta da porta, continuando a forçar a porta a abrir. Por detrás de toda a seriedade e decoro, uma figura alta, de um rosto fino com uma maquiagem limpa, meticulosamente trabalhada, cabelos longos e loiros apoiados minuciosamente aos ombros e olhos curtos, penetrantes. Nemo parecia um filhotinho de nuvem olhando para aquela torre de compostura à sua frente, sorrindo bobamente.

Natasha olhou para baixo, fitou Nemo sorridente, e sorriu-lhe de volta. < Desculpe, crianças >, disse se dirigindo para Nemo e Kali, < Tive que parar para comprar algumas coisas depois que saí do trabalho e acabei ficando presa no engarrafamento por causa da chuva>. Natasha foi finalmente entrando no apartamento, deixando o guarda-chuva ao lado da porta de entrada e a maleta no sofá da sala. Depois, olhando para Nemo, falou < Finalmente você resolveu usar essa camisa, não é? Já faz quase um mês que a comprou. Ficou muito lindi nela, apesar de achar que talvez seja um pouco grande demais para você>.

Nemo virou o pescoço de um lado para o outro, puxando as mangas largas da camisa social, <Ah! Mas eu gosto de roupas largas!>, e abraçou-se pela cintura. Natasha sorriu, <Você é uni menini muito fofi, sabia?>.

< Olha que assim eu fico com ciúmes! > reclamou brincalhona Kali, de dentro da cozinha. < Nem precisa ficar, menina, sabe que é fofa também>, sorriu Kali, mas logo seu sorriso tornou-se numa careta ao perceber que a garota se encontrava na cozinha, < Querida, o que você está fazendo na cozinha?>. Kali percebeu o tom de Natasha e deu uma gargalhada, <Nem se preocupe! Estou só fazendo chocolate quente, não vou colocar fogo na casa dessa vez>. Natasha soltou um suspiro, aliviada – estava muito cansada para ter que pensar em ligar para os bombeiros hoje, e isso não seria algo impensável considerando o histórico culinário de Kali.

Mas não tardou para que as três pessoas estivessem sentadas à pequena mesinha da cozinha, tomando chocolate quente e conversando sobre o dia. Na faculdade, as aulas foram super normais para Kali – e isso quer dizer monótonas. A única coisa boa foi Trisha. Desde quando ela pintou o cabelo de vermelho, era como se os olhos de Kali não conseguissem mais desviar da figura dela. < E Trisha me convidou para um show nesse sábado. Hum? Não, nem sei de que será, mas parece que nem será caro. Iremos em grupo, junto com os colegas da faculdade, então não precisam se preocupar>. Quanto a Natasha, mais um dia normal no trabalho, exceto que Joseph continuava a olhá-la através do corredor. Kali adorava ouvir Natasha falar de Joseph, ela sempre enrolava os cabelos loiros nas pontas dos dedos, toda encabulada. <Amiga, você devia falar com ele! Eu sei que você gostaria de...>; mas Natasha interrompeu a amiga: < Não, Kali. Não dá. Você sabe disso>. Kali fez bico, desgostosa, < Por que amiga? Desde Cory você nunca mais falou com ninguém e... >.

Novamente, Natasha interrompeu. < Chega Kali. Chega. >, e Natasha juntou as mãos sobre o colo, apertando os nós dos dedos insegura < Você sabe que não dá, amiga. Você sabe que eu...bem, eu sou...problemática >. Nisso, Nemo estendeu o braço e tocou nas mãos trêmulas de Natasha. <Você é perfeita >, disse num sorriso. Aquelas palavras esquentaram todo o peito de Natasha. Com a alma mais leve, fitou de volta Nemo e perguntou < Mas e você, menini, o que fez hoje?>.

Com aquela pergunta, Nemo se empertigou e falou: <Ah, eu fiz um desenho lindo, maravilhoso, colorido e perfeito. Já até o postei no blog, e ele será visto por dez mil pessoas...>, conforme ia falando, a voz de Nemo ia ganhando dimensões cada vez mais altas, num crescendo estratosfericamente explosivo, <...e o mundo inteiro vai gostar, e todos vão querer saber de mim e aí serei i maior artista do mundo! Mas isso fica pra depois >, e Nemo levantou-se da cadeira, espreguiçando-se, < Vou aproveitar que parou de chover e dar uma corridinha >.

< Não acho que seja uma boa ideia, o tempo está ruim e está bastante frio >, repetiu Natasha novamente para Nemo, que agora vestia calças largas de corrida e uma jaquetona, ambos cinza.

< Que nada, sou forte >.

< Bem, pelo menos leve o guarda-chuva...>

Blam, a porta já estava fechada, o guarda-chuva deixado intocado ao lado da entrada. Natasha suspirou profundamente e olhou para Kali, <O que fazemos com issi menini?>. Kali deu de ombros, <Ili sabe se cuidar, acho >, e então ela afastou os cabelos escuros numa postura indagativa, <Acha que ficaria bonita com algumas mechas roxas? >.

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