Parte 1
Atravessando a sala curtíssima – no escuro – habitada somente por um sofá, uma televisão e outros móveis pouco distintos, Nemo passa pela parede vazada até a cozinha – sempre no escuro, apenas as luzes da rua traziam um pouco de claridade – e, tateando pelos armários sobre sua cabeça e as gavetas sob suas mãos, foi conseguindo copo, colher, chocolate em pó, leite – ainda no escuro, as luzes da rua trazendo um pouco, mas só um pouco de claridade... então “flick”, um interruptor ligado, clarão, luz, e uma voz fina falando, < Nossa, nem vi que você estava em casa>. Com os olhos tentando se aclimatar à luminosidade, Nemo virou-se.
Atravessando a sala curtíssima – no escuro – habitada somente por um sofá, uma televisão e outros móveis pouco distintos, Nemo passa pela parede vazada até a cozinha – sempre no escuro, apenas as luzes da rua traziam um pouco de claridade – e, tateando pelos armários sobre sua cabeça e as gavetas sob suas mãos, foi conseguindo copo, colher, chocolate em pó, leite – ainda no escuro, as luzes da rua trazendo um pouco, mas só um pouco de claridade... então “flick”, um interruptor ligado, clarão, luz, e uma voz fina falando, < Nossa, nem vi que você estava em casa>. Com os olhos tentando se aclimatar à luminosidade, Nemo virou-se.
Kali.
Linda, estonteante, céu estrelado numa noite no campo; com
curvas por todos os lados, proporções magníficas,
cinturas, espaldas, quadris, ventres... seus olhos levemente
repuxados apontavam para o leste distante, mas era completamente
visível a presença do oeste em suas medidas
avantajadas, bustos, glutes. Ainda assim, mais que tudo, seus cabelos... eram negros, como onyx cinzelada e
escorrida em águas escuras – o mar de uma praia noturna,
abandonada, sem qualquer rastro de 'civilização'. Era
tamanha escuridão naqueles fios que Nemo tinha medo de cair e
se perder neles – apesar de mesmo assim já tê-lo feito
algumas vezes.
<Nunca
dá para saber direito se você está fora ou se
está trabalhando no escuro em seus desenhos quando fica com a
porta trancada assim - falava Kali entre longos sorrisos e
gesticulares de quadril, -Adoro esta saia, mas não conhecia
esta camisa social, amigui>.
<Ah,
eu tinha comprado faz um tempinho, só não tinha usado
ainda>. Nemo empurrou para um cantinho o chocolate em pó e
apoiou as palmas das mãos na bancada, retribuindo com um
sorriso líquido o de Kali, < Mas eu também não
te ouvi chegar, querida>.
<Estava
no banho, peguei uma chuvona voltando para casa>, realmente, dava
para perceber o cheiro de água nos cabelos dela, úmidos
como as gotas que batiam contra a janela da casa. O som da chuva batendo à janela, a umidade dos cabelos da amiga... Nemo arrepiou-se completamente, como se o vidro da janela fosse sua pele e a chuva fosse o cabelo de Kali. <Fica muito
fofi com essas roupas>, disse Kali aproximando-se e tocando gentilmente os pulsos de Nemo, fazendo com que parasse de prestar atenção na chuva do lado de fora.
Olhando para a amiga, Nemo respondeu fazendo uma caretinha manhosa, <Blah,
eu sei!>, enquanto deitava a cabeça no ombro dela. Kali, observando o chocolate em pó e leite, deduziu as intenções de Nemo. < Queridi, esse
pó todo não vai lhe fazer bem. O que queria? Fazer
chocolate quente? Deixa que eu faço pra vocêi>,
e foi logo guardando o que Nemo tinha pego e alcançando umas
barras de chocolate para raspar.
Nemo
ficou em bolhas, balançando Kali pelos ombros, <Poxa, não
precisa, é muito trabalho!>. Kali, sendo fortemente
balançada, só dava risada <Não é muito
trabalho. Não esquenta a cabeça>. Mas Nemo
continuava a balançá-la, < Mas eu ainda estou pensando em
dar uma corrida, amiga, então não vai dar para eu tomar!>. Kali
apenas deu de ombros, a voz chocalhando por causa de Nemo que a
balançava, <Você não vai correr nessa chuva; então pelo menos a espere passar e, enquanto espera, bebe um chocolate
quente. Vamos lá, é a única coisa que sei fazer
na cozinha!>.
Suspirando,
concordou <Tudo bem, aceito...mas só se deixar que eu te ajude>.
Kali respondeu com um sorriso silencioso, concordando com Nemo. Lá fora, chuva e
vento - frios - enquanto dentro do apartamentinho um calor começava a brotar da leiteira posta ao forno. As duas pessoas trabalhavam em silêncio, bem juntinhas uma da outra. Quando já estava ficando no ponto o chocolate, derretido e doce, o vapor quente da leiteira lambia os cabelos azuis de Nemo, fazendo-os colar nos cabelos escuros-ainda-molhados-do-banho de Kali. <Faz cócegas>, resmungou Kali com os cabelos de Nemo em seu rosto. Nemo sorriu e, contente, encostou a cabeça na da amiga. Eis então que “croc-croc”, barulhos de chaves, porta rangendo, Kali olhou para
o canto ansiosa e Nemo saltitava, dizendo: <Nossa! Finalmente,
Natasha chegou!>.
<E chegou bem na hora certa - riu Kali – vai lá ajudá-la a entrar, essa porta miserável vive empenando>, Nemo concordou e, em saltinhos alegres, foi até a porta. Nisso, a chuva continuava a cair do lado de fora, serenamente. Uma noite alegre.
Parte 3
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<E chegou bem na hora certa - riu Kali – vai lá ajudá-la a entrar, essa porta miserável vive empenando>, Nemo concordou e, em saltinhos alegres, foi até a porta. Nisso, a chuva continuava a cair do lado de fora, serenamente. Uma noite alegre.
Parte 3
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