sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Poesia (3) - Eco de Semente





Eco de semente (24,25/03/2014)

I
Antes que houvesse cores do vazio
E a inércia do universo ardesse em fúria
Tudo se resumia ao som do frio
E a sensação incômoda de azia
Que adjudicava a aurora da luxúria
E o nascimento em flor da fantasia

II
Rompe o espaço, magnífico trovão
Enche o tempo ilusório de calor
E os tilintares loucos da paixão
Que descansavam no útero do inverno
Floresçam coloridos pelo amor
Por dentre o momentâneo dentre o eterno

III
Da noite tumular vem a manhã
Que a escura sinfonia co a alva finda
Fazendo a iridescente luz por lã
E as tranças do futuro em melodia:
Inexplicável tanto quanto és linda,
Entre o botão e a pétala alegria

IV
Compõem-te o ledo dia a grama pele
Os rios, teus cabelos; olhos, céus
És tudo e ainda mais que se pincele
Tão misteriosamente como a Lua
Beijando os corações, dançando os véus
Inexoravelmente a/és vida nua

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Um poema um tanto labiríntico. Será que vocês conseguem descobrir sobre o que se trata?


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quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Aparente Nemo (3) - Natasha



<Já estava preocupando contigo!>, comentou Nemo, sorridente. A porta foi abrindo com um pouco de esforço, é verdade. Atrás dela, um vestido social reto, de tons pastéis sérios, sem piadas ou brincadeiras, indo até os joelhos protegidos por meia-calça escura que descia até os saltos brancos fechados e austeros. Na mão esquerda, uma maleta discreta; entre os ombros, um guarda-chuva; a mão direita, com um relógio dourado ao pulso, ainda segurava na maçaneta da porta, continuando a forçar a porta a abrir. Por detrás de toda a seriedade e decoro, uma figura alta, de um rosto fino com uma maquiagem limpa, meticulosamente trabalhada, cabelos longos e loiros apoiados minuciosamente aos ombros e olhos curtos, penetrantes. Nemo parecia um filhotinho de nuvem olhando para aquela torre de compostura à sua frente, sorrindo bobamente.

Natasha olhou para baixo, fitou Nemo sorridente, e sorriu-lhe de volta. < Desculpe, crianças >, disse se dirigindo para Nemo e Kali, < Tive que parar para comprar algumas coisas depois que saí do trabalho e acabei ficando presa no engarrafamento por causa da chuva>. Natasha foi finalmente entrando no apartamento, deixando o guarda-chuva ao lado da porta de entrada e a maleta no sofá da sala. Depois, olhando para Nemo, falou < Finalmente você resolveu usar essa camisa, não é? Já faz quase um mês que a comprou. Ficou muito lindi nela, apesar de achar que talvez seja um pouco grande demais para você>.

Nemo virou o pescoço de um lado para o outro, puxando as mangas largas da camisa social, <Ah! Mas eu gosto de roupas largas!>, e abraçou-se pela cintura. Natasha sorriu, <Você é uni menini muito fofi, sabia?>.

< Olha que assim eu fico com ciúmes! > reclamou brincalhona Kali, de dentro da cozinha. < Nem precisa ficar, menina, sabe que é fofa também>, sorriu Kali, mas logo seu sorriso tornou-se numa careta ao perceber que a garota se encontrava na cozinha, < Querida, o que você está fazendo na cozinha?>. Kali percebeu o tom de Natasha e deu uma gargalhada, <Nem se preocupe! Estou só fazendo chocolate quente, não vou colocar fogo na casa dessa vez>. Natasha soltou um suspiro, aliviada – estava muito cansada para ter que pensar em ligar para os bombeiros hoje, e isso não seria algo impensável considerando o histórico culinário de Kali.

Mas não tardou para que as três pessoas estivessem sentadas à pequena mesinha da cozinha, tomando chocolate quente e conversando sobre o dia. Na faculdade, as aulas foram super normais para Kali – e isso quer dizer monótonas. A única coisa boa foi Trisha. Desde quando ela pintou o cabelo de vermelho, era como se os olhos de Kali não conseguissem mais desviar da figura dela. < E Trisha me convidou para um show nesse sábado. Hum? Não, nem sei de que será, mas parece que nem será caro. Iremos em grupo, junto com os colegas da faculdade, então não precisam se preocupar>. Quanto a Natasha, mais um dia normal no trabalho, exceto que Joseph continuava a olhá-la através do corredor. Kali adorava ouvir Natasha falar de Joseph, ela sempre enrolava os cabelos loiros nas pontas dos dedos, toda encabulada. <Amiga, você devia falar com ele! Eu sei que você gostaria de...>; mas Natasha interrompeu a amiga: < Não, Kali. Não dá. Você sabe disso>. Kali fez bico, desgostosa, < Por que amiga? Desde Cory você nunca mais falou com ninguém e... >.

Novamente, Natasha interrompeu. < Chega Kali. Chega. >, e Natasha juntou as mãos sobre o colo, apertando os nós dos dedos insegura < Você sabe que não dá, amiga. Você sabe que eu...bem, eu sou...problemática >. Nisso, Nemo estendeu o braço e tocou nas mãos trêmulas de Natasha. <Você é perfeita >, disse num sorriso. Aquelas palavras esquentaram todo o peito de Natasha. Com a alma mais leve, fitou de volta Nemo e perguntou < Mas e você, menini, o que fez hoje?>.

Com aquela pergunta, Nemo se empertigou e falou: <Ah, eu fiz um desenho lindo, maravilhoso, colorido e perfeito. Já até o postei no blog, e ele será visto por dez mil pessoas...>, conforme ia falando, a voz de Nemo ia ganhando dimensões cada vez mais altas, num crescendo estratosfericamente explosivo, <...e o mundo inteiro vai gostar, e todos vão querer saber de mim e aí serei i maior artista do mundo! Mas isso fica pra depois >, e Nemo levantou-se da cadeira, espreguiçando-se, < Vou aproveitar que parou de chover e dar uma corridinha >.

< Não acho que seja uma boa ideia, o tempo está ruim e está bastante frio >, repetiu Natasha novamente para Nemo, que agora vestia calças largas de corrida e uma jaquetona, ambos cinza.

< Que nada, sou forte >.

< Bem, pelo menos leve o guarda-chuva...>

Blam, a porta já estava fechada, o guarda-chuva deixado intocado ao lado da entrada. Natasha suspirou profundamente e olhou para Kali, <O que fazemos com issi menini?>. Kali deu de ombros, <Ili sabe se cuidar, acho >, e então ela afastou os cabelos escuros numa postura indagativa, <Acha que ficaria bonita com algumas mechas roxas? >.

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terça-feira, 26 de agosto de 2014

Poema (2) - Ave do Paraíso



Ave do Paraíso (29/05/2014)

As cores do arco-íris fechas
No ninho das cabeleiras
Caleidoscópicas mechas
Lentamente a balançar
Leoninas, feiticeiras
Na fantasmagoria do ar

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Poema que fiz para uma pessoa de cabelos multi-coloridos que vi passar pelo campus.


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Poema (1) - Hoje, minha alegria é sombria, mas ainda é alegria

Hoje, minha alegria é sombria, mas ainda é alegria (15 04 2014)

Hoje minha alegria está sombria
Mas inda é alegria
Um pouco assim detida, resumida
Tapete carmesim esburacado
Nas pontas esticado, como a vida
Que nem por isso perde o seu brocado
E a leveza do sim
Ahsim, minha alegria está sombria
Mas inda alegre, tão leve alegria


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Poema feito a partir de uma frase que a professora Antônia falou durante a aula de teoria da lírica.

Aparente Nemo (2) - Kali



Parte 1

Atravessando a sala curtíssima – no escuro – habitada somente por um sofá, uma televisão e outros móveis pouco distintos, Nemo passa pela parede vazada até a cozinha – sempre no escuro, apenas as luzes da rua traziam um pouco de claridade – e, tateando pelos armários sobre sua cabeça e as gavetas sob suas mãos, foi conseguindo copo, colher, chocolate em pó, leite – ainda no escuro, as luzes da rua trazendo um pouco, mas só um pouco de claridade... então “flick”, um interruptor ligado, clarão, luz, e uma voz fina falando, < Nossa, nem vi que você estava em casa>. Com os olhos tentando se aclimatar à luminosidade, Nemo virou-se.

Kali. Linda, estonteante, céu estrelado numa noite no campo; com curvas por todos os lados, proporções magníficas, cinturas, espaldas, quadris, ventres... seus olhos levemente repuxados apontavam para o leste distante, mas era completamente visível a presença do oeste em suas medidas avantajadas, bustos, glutes. Ainda assim, mais que tudo, seus cabelos... eram negros, como onyx cinzelada e escorrida em águas escuras – o mar de uma praia noturna, abandonada, sem qualquer rastro de 'civilização'. Era tamanha escuridão naqueles fios que Nemo tinha medo de cair e se perder neles – apesar de mesmo assim já tê-lo feito algumas vezes.

<Nunca dá para saber direito se você está fora ou se está trabalhando no escuro em seus desenhos quando fica com a porta trancada assim - falava Kali entre longos sorrisos e gesticulares de quadril, -Adoro esta saia, mas não conhecia esta camisa social, amigui>.

<Ah, eu tinha comprado faz um tempinho, só não tinha usado ainda>. Nemo empurrou para um cantinho o chocolate em pó e apoiou as palmas das mãos na bancada, retribuindo com um sorriso líquido o de Kali, < Mas eu também não te ouvi chegar, querida>.

<Estava no banho, peguei uma chuvona voltando para casa>, realmente, dava para perceber o cheiro de água nos cabelos dela, úmidos como as gotas que batiam contra a janela da casa. O som da chuva batendo à janela, a umidade dos cabelos da amiga... Nemo arrepiou-se completamente, como se o vidro da janela fosse sua pele e a chuva fosse o cabelo de Kali. <Fica muito fofi com essas roupas>, disse Kali aproximando-se e tocando gentilmente os pulsos de Nemo, fazendo com que parasse de prestar atenção na chuva do lado de fora.

Olhando para a amiga, Nemo respondeu fazendo uma caretinha manhosa, <Blah, eu sei!>, enquanto deitava a cabeça no ombro dela. Kali, observando o chocolate em pó e leite, deduziu as intenções de Nemo. < Queridi, esse pó todo não vai lhe fazer bem. O que queria? Fazer chocolate quente? Deixa que eu faço pra vocêi>, e foi logo guardando o que Nemo tinha pego e alcançando umas barras de chocolate para raspar.

Nemo ficou em bolhas, balançando Kali pelos ombros, <Poxa, não precisa, é muito trabalho!>. Kali, sendo fortemente balançada, só dava risada <Não é muito trabalho. Não esquenta a cabeça>. Mas Nemo continuava a balançá-la, < Mas eu ainda estou pensando em dar uma corrida, amiga, então não vai dar para eu tomar!>. Kali apenas deu de ombros, a voz chocalhando por causa de Nemo que a balançava, <Você não vai correr nessa chuva; então pelo menos a espere passar e, enquanto espera, bebe um chocolate quente. Vamos lá, é a única coisa que sei fazer na cozinha!>.

Suspirando, concordou <Tudo bem, aceito...mas só se deixar que eu te ajude>. Kali respondeu com um sorriso silencioso, concordando com Nemo. Lá fora, chuva e vento - frios - enquanto dentro do apartamentinho um calor começava a brotar da leiteira posta ao forno. As duas pessoas trabalhavam em silêncio, bem juntinhas uma da outra. Quando já estava ficando no ponto o chocolate, derretido e doce, o vapor quente da leiteira lambia os cabelos azuis de Nemo, fazendo-os colar nos cabelos escuros-ainda-molhados-do-banho de Kali. <Faz cócegas>, resmungou Kali com os cabelos de Nemo em seu rosto. Nemo sorriu e, contente, encostou a cabeça na da amiga. Eis então que “croc-croc”, barulhos de chaves, porta rangendo, Kali olhou para o canto ansiosa e Nemo saltitava, dizendo: <Nossa! Finalmente, Natasha chegou!>.

<E chegou bem na hora certa - riu Kali – vai lá ajudá-la a entrar, essa porta miserável vive empenando>, Nemo concordou e, em saltinhos alegres, foi até a porta. Nisso, a chuva continuava a cair do lado de fora, serenamente. Uma noite alegre.

Parte 3

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