Olá Tamanduá!
ou
Abro a porta do
armário
Surpresa
Olá, tamanduá
Como vai você?
Sozinho, aí no armário
Tão escuro e solitário
Em meio a livros,
bolsas e pastas
Perdido entre as aspas
Esquecido nos restelhos
Com poeira até os
joelhos
Sujeira
Tadinho tamanduá
Sua língua deve estar
seca;
Suja de tanto pó
Vejo seus olhos,
amarelhinhos
Pela luz forte,
miudinhos
Me acusando sem ter dó
Esquecimento
Me perdoe, me perdoe
Esquecer-se sempre me
foi
Uma segunda natureza
Esqueço hoje meu nome
Amanhã, esqueço a
beleza
Esqueço a razão do
sono
E os motivos do abandono
Esqueço as promessas,
estrelas
Esqueço a feição da
lua
Esqueço o lado do
vestido
Para quem esquece de
tanto
A vida de quando em
quando
Confunde sorriso e
pranto
Reviranda
Retiro a mala, o
cadeado
Os livros, a capa e a
espada
Agora, já mais
soltinho
Te pego em meu colinho
E aperto em meus braços
Percepitado
Confesso minha culpa
A solidão aperta pelos
cantos
Garimpando as costelas
Pinçando fera como
grampos
Uma coberta feita em
vazio
Que quanto mais nela se
encasula
Mais descoberta se encontra a criatura
Culpeiro
Desculpa meu
utilitarismo
Todo ego tem fascismo
Desculpa por minha flor
Pela petalas de narciso
Procurando o desejado
Raramento o que é
preciso
Desculpa, tamanduá
A maldade de ansiar
Um tantinho de
companhia
Quando assombra-se a
agonia
Na portinha de meu lar
Confrontação
Você me olha, me olha
Longamente e meditante
Rochedos antigos de
pêlos marrons
Seus olhos amaranjados
nem piscam
Todo julgamento que
enxergo
É o reflexo de minha
fome de mim
Devorando tudo que não
é osso
O vilão de nossa
história
Passa primeiro pelo eu
lírico
A marca inescapável da
autoria
Refletimento
Aquele
lá? Um lobo
Cinza
e branco e neve
Não
chore, não grite
Não
se desmantele, tamanduá
O
lobo não fica ali
Por
ser melhor do que cá
Não
fique triste por tão pouco
Mas
não te ouço gritando
Nem
mesmo abrindo a boca
Acho
que ouço o retorno
Do
vento que plantei longe
Espelhavagem
Agora,
senta em meu colo
Escrevo
o que acontece
Depois,
senta na cama
Me
olhando feito um lago
Sem
a inquietude do mar
Que
reviranda por marés
Cada
palavra tecida
Caminha
mais rápido para o fim
E
esvazia
Acertos
Perdão
pela lacuna
Do
abandono desprogramado
E
também pelo reaparecimento
Em
função de anseios egotistas
Gosto
do vazio de paredes sem cor
Apesar
de às vezes perder minha chuva
Mas
lembra, tamanduá
Não
deixo te de gostar
Quando
meus olhos desolham de ti
E
o lobo, em cima dos livros?
Ili
uiva.
Então?
Olá,
tamanduá
Com
olhinhos divertidos
Vejo
que as rimas acabaram
E
também o conflito
Sua
pele é tão quente
Sinto
meu coração tremer seu corpo
Bom,
é isso
Um
poema deve saber quando começa, assustadoramente, a se tornar um
diário.
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